Muito mais do que simples estruturas de madeira, os passadiços são um exemplo notável de como a engenharia pode criar caminhos sustentáveis que respeitam e valorizam o meio ambiente. Estes percursos pedonais exigem estudos geotécnicos, ambientais e estruturais rigorosos, bem como materiais resistentes à humidade e ao desgaste natural. Além de promoverem a atividade física e o turismo de natureza, tornam acessíveis locais que, de outra forma, estariam isolados ou de difícil acesso. Para os engenheiros, estes trilhos oferecem uma oportunidade de apreciar o engenho humano ao serviço da preservação e descoberta do território.
Passadiços do Sistelo
Localizados na emblemática Aldeia do Sistelo, em Arcos de Valdevez – apelidada de “Tibete português” pelos seus socalcos impressionantes – estes passadiços acompanham o Rio Vez, integrando-se na Ecovia do Vez, uma das mais belas rotas de natureza do norte do país.
Embora o troço de passadiço propriamente dito tenha apenas cerca de 2 km, pode-se estender a caminhada até Vilela, totalizando 11 km (ida). Pelo caminho, encontrará espigueiros centenários, capelas românicas, pontes medievais e cascatas naturais. A paisagem é dominada por montanhas verdejantes, campos cultivados em socalcos e uma rica biodiversidade de aves, libélulas e anfíbios.

Passadiços Marítimos de Gaia – Espinho
Com cerca de 15 km, este é um dos maiores passadiços costeiros de Portugal, e oferece uma experiência única ao longo da frente atlântica, com uma ligação direta entre a Praia da Afurada, em Vila Nova de Gaia, e a Praia da Baía, em Espinho.
O percurso percorre cordões dunares protegidos, passando por locais como Miramar, com a sua icónica Capela do Senhor da Pedra, e zonas com passagens sobre o mar e miradouros sobre o Atlântico. Ideal para caminhadas, corridas ou passeios de bicicleta, estes passadiços também atravessam zonas ricas em biodiversidade costeira, como o Estuário do Douro, habitat de aves migratórias e espécies raras.

Passadiços de Fiães
Inseridos no Parque das Ribeiras do Rio Uíma, no concelho de Santa Maria da Feira, estes passadiços percorrem 4 km por um bosque denso e húmido, onde se pode observar a vegetação típica das margens fluviais, como amieiros, salgueiros e fetos.
A estrutura de madeira acompanha o curso do rio Uíma, cruzando-se com açudes, pequenas cascatas, zonas de observação de aves e uma torre panorâmica com vista sobre o parque. O local é muito procurado por famílias, dada a tranquilidade e facilidade do percurso. Além disso, há um Centro de Interpretação Ambiental e zonas de descanso e piquenique ao longo do trilho.

Passadiços da Barrinha de Esmoriz
Um caso exemplar de reabilitação ambiental, os passadiços da Barrinha estendem-se por 8 km de pura comunhão com a natureza. A lagoa da Barrinha, também chamada Lagoa de Paramos, foi transformada num santuário ecológico após anos de degradação.
Hoje, o percurso oferece observatórios de aves, pontes suspensas, zonas de repouso e painéis informativos sobre a fauna e flora local. Entre as espécies que se podem avistar estão o camão, a garça-real e diversas espécies de anfíbios e répteis. O trilho termina junto às praias de Esmoriz e Paramos, onde é possível apreciar a transição entre os ecossistemas lagunar, dunar e marítimo.

Passadiços do Paiva
Considerados os mais famosos de Portugal, os Passadiços do Paiva são um símbolo do turismo de natureza nacional. Localizados no Arouca Geopark, Património Mundial da UNESCO, têm 8,7 km (17,4 km ida e volta) ao longo do Rio Paiva, conhecido pelas suas águas bravas e paisagem geológica singular.
O percurso, que liga o Areinho à Espiunca, atravessa zonas de forte declive com estruturas engenhosas que desafiam a gravidade, como a famosa escadaria em ziguezague. Pelo caminho, destacam-se a Cascata das Aguieiras, a impressionante Garganta do Paiva, a Gola do Salto e a Falha geológica de Espiunca. Há ainda pontos de interesse histórico e arqueológico, como vestígios romanos e pré-históricos. A poucos metros do passadiço está a famosa Ponte Suspensa 516 Arouca, uma das maiores do mundo.

Passadiços de Aveiro
Este percurso de 7,5 km (15 km ida e volta) oferece uma das mais serenas experiências de contacto com a natureza na zona costeira portuguesa. Com início no Canal de São Roque, junto ao centro de Aveiro, atravessa sapais, bosques e pinhais litorais, culminando em Vilarinho, perto do rio Vouga.
Os passadiços percorrem a Ria de Aveiro, um dos sistemas lagunares mais importantes da Europa, com habitat de aves como flamingos, colhereiros e alfaiates. Pelo caminho, é possível ver salinas tradicionais, barcos moliceiros ao longe e antigos armazéns de sal.
O percurso pode ser encurtado com início/fim no Cais da Ribeira de Esgueira, reduzindo a distância para 10 km (ida e volta). É plano, acessível, e ideal para quem deseja combinar natureza, tranquilidade e um toque de história local.
