A XIV edição dos Encontros Vínicos dos Vinhos Verdes arrancou em Viana do Castelo com um seminário dedicado à "Gastronomia e Vinhos na Região dos Vinhos Verdes". Neste evento, com apresentação de Vitor Lima, Tesoureiro do Conselho Diretivo - Região Norte da OE, especialistas e entusiastas reuniram-se na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, para discutir o papel dos vinhos verdes na gastronomia, na saúde e muito mais.
A primeira intervenção coube a Vítor Correia, Delegado Distrital da Ordem dos Engenheiros de Viana do Castelo, que lembrou que "a relação entre a gastronomia e os vinhos é, além de muito rica, algo que está profundamente relacionado com a matriz regional, o saber tradicional e um grande potencial de inovação". Abordou ainda a relação dos vinhos verdes com a saúde e a sustentabilidade, reforçando a importância dada pelo consumidor a estes aspetos, o que implica um reforço das competências dos profissionais dos setores que trabalham esta temática.
Para partilhar o ponto de vista do ensino superior, seguiu-se a intervenção de Isabel Valín, diretora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESA-IPVC), que relembrou a relação entre o ensino e a preparação dos futuros profissionais dos setores que se relacionam através do universo dos vinhos verdes e que estão a ser encaminhados para “acompanhar as alterações, as mudanças e os desafios" que neles vão surgindo.



A ascensão da casta Loureiro e o seu reconhecimento internacional foi um dos pontos sublinhados na intervenção de Dora Simões, Presidente da Direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV). Mencionou ainda a importância da I&D e da inovação, fundamentais para a competitividade e sustentabilidade do setor, temas que a CVRVV implementou com a "Agenda de I&D e Inovação para o setor dos vinhos verdes", "construída com a colaboração e contributos de produtores, técnicos de viticultura e da academia".
Bento Aires, Presidente do Conselho Diretivo da OERN, defendeu a necessidade de apostar e reter o talento qualificado em Portugal, através da valorização dos Engenheiros e Engenheiras que desenvolvem ferramentas e técnicas essenciais para os setores em destaque nestes encontros. Deu ênfase à necessidade de apoiar os técnicos e produtores e ainda à importância da colaboração entre entidades para criar mais eventos de valorização dos vinhos verdes e da Região.
A sessão de abertura encerrou-se com a intervenção de Manuel Vitorino, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que partilhou o impacto dos Vinhos Verdes no Município e nos seus habitantes, desde o seu reconhecimento em Portugal até ao apreço encontrado no estrangeiro.


Seguiu-se o primeiro Painel com o tema "O terroir na gastronomia e no vinho", moderado por Barros Cardoso, da FLUP.
Olga Matos, do IPVC, apresentou um conceito de terroir mais alargado no que se refere à gastronomia, como produto de síntese do território, da cultura e da história. Já Gonçalo Maia Marques, do IPVC, através de documentação escrita e de imagens (mapas, desenhos, litografias, etc) reportou-se à cultura da vinha desde os tempos medievais, das ordens religiosas e das memórias paroquiais, até aos tempos modernos.
Anselmo Mendes, da Anselmo Mendes Vinhos Lda., fez uma análise sobre a oferta tão diversificada de vinhos da RVV no mundo, face às ameaças a que o produto vinho e vinhas estão expostos. Referiu as dificuldades do negócio, a necessidade de uma promoção mais eficaz, e a importância de associar os nossos vinhos à alimentação mais recente, isto é, à das camadas mais jovens, à alimentação que se internacionalizou, nomeadamente a cozinha italiana e asiática.

Carlos Fernandes, do IPVC, moderou o último painel da manhã com o tema "A natureza, a alimentação e a saúde".
A primeira intervenção coube a Graça Saraiva, das Ervas Finas, que veio demonstrar a sua paixão pelos jardins gastronómicos e a associação dos seus atributos à culinária regional. Referiu a importância da colheita dos produtos em plena maturação, a fim de que possam ser conservados nas dispensas da forma mais adequada e mostrou imagens de inúmeros órgãos de plantas comestíveis, desde flores, raízes, folhas, caules, sementes, e até frutos.
Mégane Vieira, médica interna de formação específica em Medicina Geral e Familiar e Rita Fernandes, médica na Unidade Local de Saúde (ULS) do Alto Minho, focaram os efeitos do vinho (álcool) na saúde, salientando alguns benefícios no seu consumo moderado.
Já Paula Veloso, começou por fazer a distinção entre comida, alimentação, nutrição e gastronomia, definindo esta última, como o estudo da relação entre a cultura e a comida. Referiu o sucesso do turismo enogastronómico, sem deixar de apontar algumas lacunas ainda presentes no nosso país, tais como, a falta de acessibilidade, segurança e de transportes, entre outros.
A última intervenção coube a Rui Monteiro Pinto, que referiu as dificuldades de comercialização de produtos numa Europa cheia de medidas de segurança alimentar e da falta dessa segurança nos produtos oriundos dos outros quatro continentes. Lembrou que a segurança alimentar começa na natureza e na consciência do consumidor.

O seminário terminou no período da tarde com o painel dedicado à questão "Harmonização de Vinhos e Pratos: Ciência ou Arte?", moderado pelo enólogo Jorge Sousa Pinto e com a presença de dois escanções, João Lourenço e Diana Peixoto e o chef de cozinha, Rui Filipe Santos.
O moderador questionou os convidados sobre diversos aspetos relacionados com a sua atividade. Abordaram a importância do ambiente do restaurante ou do contexto do interior/litoral, do gosto do consumidor, da importância do tipo de copo e temperatura do mesmo, a que o vinho é servido, dos condimentos que achavam indispensáveis na cozinha, entre outros. Foi consensual a necessidade de formação adequada dos serviçais, e mesmo, para quem abre um restaurante.

Teresa Mota, Engenheira Agrónoma e coordenadora dos Encontros Vínicos do Vinho Verde, e Vitor Correia encerraram o seminário, congratulando todos os oradores e especialistas e reforçando a importância de continuar a discutir ideias e projetos para aprofundar o conhecimento existente sobre os Vinhos Verdes.
Depois do seminário seguiu-se o Curso de Prova de Vinhos, com o formador e Enólogo Fernando Moura e com a presença de Teresa Mota, onde os participantes tiveram a oportunidade de conhecer diferentes vinhos e treinar as suas capacidades sensoriais para identificar aromas, texturas e muito mais. O Jantar de Gala, na Escola de Hotelaria e Turismo de Viana do Castelo – Turismo de Portugal Forte de Santiago da Barra, encerrou este primeiro dia dos Encontros com a entrega dos Prémios "Vinho Verde do Ano 2025", com destaque para a edição especial dedicada ao Vinho Verde – Casta Loureiro.


Os XIV Encontros Vínicos dos Vinhos Verdes, terminaram no sábado com uma visita e almoço ao Paço d'Anha, onde os participantes tiveram uma visita guiada onde conheceram a história do edifício e os aposentos, mobiliário e colecções da casa.
Visitaram a vinha, hoje também ela renovada, que é explorada por Anselmo Mendes, enólogo dos Vinhos Verdes, e provaram um novo vinho monocasta Loureiro. A manhã terminou com uma visita ao jardim inglês e ao jardim francês e um almoço volante no telheiro da casa agrícola, hoje explorados em turismo em espaço rural.
