Estudei Engenharia Química na FEUP e em 2005 participei no programa ERASMUS, no departamento IVC-SEP Danish Technical University, no qual tive a oportunidade de concluir a tese final de curso. Para além da credibilidade académica, o meu objetivo foi explorar uma sociedade culturalmente muito diferente da portuguesa e aprender o porquê dos países nórdicos estarem num patamar acima de Portugal. Nesse contexto, em 2006, integrei um programa de pós-mestrado Professional Doctorate in Engineering degree (PDEng) na Holanda, e desde então fiquei. No final do programa aceitei o convite da Technip para integrar a equipa de design e tecnologia na área de produção de Hidrogénio. Durante 5 anos tive a oportunidade de realizar vários projetos e algo que nunca esquecerei que foi participar no comissionamento e arranque da unidade de Hidrogénio na refinaria da GALP em Sines.
"Devido a crise económica que se assentou, em 2008,
não procurei emprego em Portugal"
Em 2013, surgiu a oportunidade de integrar a Shell Global Solutions – Projects and Technology (P&T) no departamento de Gasificação e Hidrogénio sendo que as minhas principais responsabilidades são a consultadoria técnica a unidades fabris / refinarias (asset support), incluindo comissionamento e arranque; desenvolvimento tecnológico e otimização de processos e participação em novos projetos (área Gas-to-Liquids GTL). Atualmente, dedico-me a projetos na área de descarbonização, mais precisamente na produção de Hidrogénio Verde/Azul cuja aplicação vai desde produção de bio-combustíveis e/ou produção de Amónia como forma de transporte de Hidrogénio.
A oportunidade surgiu assim que terminei os estudos (2008). Nessa altura, devido a crise económica que se assentou, não procurei emprego em Portugal. Estava satisfeito por iniciar a atividade laboral e queria expandir os meus horizontes numa empresa internacional.
Apesar da Technip ser uma empresa internacional, o escritório na Holanda tem um ambiente muito familiar e acolhedor que torna a adaptação, quer à cultura, quer à empresa, muito fácil. Isto também se deve ao facto do número de nacionalidades ser mais vinte. No que diz respeito à Shell, o ambiente corporativo requer uma forma de atuação e comunicação diferentes.
Para mim é importante fazer o que gosto, ser livre de fazer o que gosto e explorar novos caminhos. Três horas é o tempo que nos separa, por isso vale sempre a pena seguir o nosso sonho ou ambições.
"Na Shell, existem, não só, muitas mulheres em lugares de topo, mas também em áreas com R&D, projetos e refinarias."
A Engenharia continua a ser uma profissão de homens?
Nos tempos atuais e, apesar de haver ainda alguma desigualdade, penso que Engenharia não é uma profissão de homens. Na Shell, existem, não só, muitas mulheres em lugares de topo, mas também em áreas com R&D, projetos e refinarias. Por outro lado, trabalhar num ambiente em que o género é diversificado torna a criação de ideias e as formas de trabalhar mais interessantes e frutíferas.
"Mais do que componentes técnicos, as soft skills são cada vez mais importantes. Na componente técnica, programar ou usar software comercial é fundamental."
Apesar de não ter trabalhado (ainda) em Portugal, das conversas que tenho com amigos e colegas (que também trabalharam no estrangeiro) apercebo-me que existe, de certa forma, alguma falta de metodologia, planeamento e execução de acordo com o planeado. Talvez seja por não haver processos incutidos, falta de formação ou desinteresse. Mas esta possível descoordenação pode levar a que se saltem etapas sem que a anterior esteja devidamente finalizada. Outro aspeto é a forma de trabalho antiquada que não promove um sentido “ownership” aos jovens engenheiro(a)s quando lhes é atribuída uma tarefa ou projeto.
Curiosidade, dedicação, aprendizagem contínua, capacidade de se relacionar com os colegas e expor as suas ideias claras e objetivas, autenticidade e “ownership”. Mais do que componentes técnicos, as “soft” skills são cada vez mais importantes. Na componente técnica, programar ou usar software comercial é fundamental.
Aposta na inovação a nível de materiais e/ou tecnologias sustentáveis. Formação pessoal em várias áreas – multidisciplinaridade.
Sim, permite uma interação social, técnica e psicológica que trará frutos a longo prazo.
Tenho vários colegas portugueses sendo que a maioria tem como formação base de Engenharia Química.
"A Engenharia sempre esteve na moda, contudo nunca foi valorizada como devia a nível salarial"
Na Holanda o respeito é ganho e valorizado pela demonstração de resultados. E nisso tenho a certeza que todos os colegas portugueses, que se encontram em multinacionais ou outras empresas de menores dimensões, demonstram as suas qualidades técnicas e socias acima da média.
A Engenharia sempre esteve na moda, contudo nunca foi valorizada como devia a nível salarial e possivelmente nem na posição na estrutura da empresa.
Diogo Mendes – Diretor Técnico da Bondalti. Aprecio a sua dedicação em melhorar cada vez mais os aspetos de segurança no grupo, na sua visão sobre a produção e aplicação de Hidrogénio verde no sentido de redução de emissão de gases de efeito de estufa e também no sei apoio a programas de R&D.