Acessibilidade (0)
A A A
Youtube - OERN Facebook - OERN Linkedin - OERN
Logo OE
OERN servicos@oern.pt

"Temos de estar atentos às novas trajetórias dos mercados"

26 de maio de 2020 | Geral

 

Nome: Pedro Moás

Idade: 51 anos

Empresa: Adão da Fonseca – engenheiros consultores, Lda.

Função: Sócio-gerente e projetista de estruturas

 

 

As atuais restrições devido à Covid-19 tiveram impacto na sua atividade profissional? A que nível?
Sim, tal como para a maior parte das pessoas em todo o mundo, as atuais restrições tiveram um grande impacto na nossa atividade profissional. A atividade de assistência técnica às nossas obras em França foi totalmente interrompida pois as obras a decorrer foram paradas e os operários mandados para casa, afetando bastante os nossos clientes que nestes casos são as construtoras. Em Portugal, o sector da construção civil continua ativo e as nossas obras continuam a laborar, mas com planos de contingência que obrigam a um maior distanciamento e um menor contato entre operários. Da nossa parte, as visitas às obras foram canceladas, mas continuamos a assegurar a necessária assistência técnica à distância e com reuniões de obra por videoconferência. No campo da elaboração dos projetos em curso, ainda não se sente qualquer abrandamento, sendo que os nossos clientes, tanto públicos como privados, continuam bastante interessados em manter os investimentos previstos e a pretender manter os prazos para conclusão dos projetos. Na atividade de projeto, a Covid-19 obrigou a uma reformulação do modo de trabalhar, com trabalho preferencialmente a partir de casa e reuniões de trabalho com a restante equipa de projeto, e clientes, através de videoconferência. O maior problema deste isolamento é a perturbação da atividade comercial e de angariação de novos trabalhos com muitos investidores a pararem completamente.

 

Que medidas tomou para se manter no ativo no seu posto de trabalho?
Em meados de março, e tendo em consideração o aumento exponencial de novos casos da Covid-19 em Portugal, que na altura era de 40% ao dia, foi decidido que a partir de 16 de março, mesmo antes de ter sido decretado o estado de emergência, se passaria a trabalhar em regime de teletrabalho, apenas com deslocações esporádicas ao escritório para impressão de desenhos ou outros documentos e para passagem de trabalhos. Foram também canceladas todas as reuniões presenciais sendo substituídas por reuniões de videoconferência. A aplicação do regime de teletrabalho não foi difícil visto que, já há alguns anos, tínhamos garantido o acesso remoto da maior parte dos colaboradores ao nosso servidor. O trabalho à distância, longe dos restantes elementos da equipa de trabalho, traduz sempre numa perda de eficiência, no entanto, reduz exponencialmente o risco de contágio e assegura que todos os trabalhadores se mantenham a trabalhar, mesmo aqueles que por terem filhos poderiam ter de requerer baixa por assistência à família. Apesar de todas as dificuldades inerentes, com a aplicação deste sistema de trabalho à distância, conseguimos manter toda a nossa capacidade de produção para cumprimento dos objetivos e dos prazos.

 

Terminada esta fase, como irá adaptar-se para retomar o seu trabalho em pleno?
Terminada esta fase mais crítica, e enquanto não haja uma vacina ou enquanto não haja imunidade de grupo, vamos retomar progressivamente as atividades no escritório, mantendo algumas das atividades em teletrabalho de modo a permitir um maior distanciamento entre os colaboradores, eventualmente implementar a obrigatoriedade de uso de máscara e limitar o número máximo de pessoas em reuniões de trabalho presenciais. Após o aparecimento da vacina ou após a imunidade de grupo, penso que poderemos voltar à normalidade habitual, mas certamente vamos tirar vantagens e ensinamentos deste período de confinamento. Vamos certamente chegar à conclusão que muitas das nossas atividades podem ser feitas remotamente, com algumas vantagens e maior produtividade, mas sobretudo com uma melhoria da qualidade de vida de cada colaborador.

 

Na sua opinião, que efeitos terá este período na atividade do Engenheiro Civil?
Embora nesta fase não se tenha ainda sentido a quebra na atividade de projeto, penso que não vamos conseguir escapar aos efeitos devastadores desta crise, que irá provocar uma quebra considerável do PIB nacional e um grande aumento da taxa de desemprego. A crise no turismo, transportes e entretenimento vai afetar seguramente o investimento no sector da construção e obrigar as empresas a repensar os seus investimentos, o que vai originar um abrandamento em todos dos sectores da atividade do Engenheiro Civil.

 

Que recomendações, sugestões ou tipo de ações entende que poderão minimizar o impacto negativo na Engenharia Civil?
Está demonstrado que, ao contrário da “gripe espanhola” que afetou o mundo no início do século passado, esta doença é bastante menos letal, apenas afetando uma parte da população e em percentagem baixa. Recomendo que sejam abertas as escolas, comércio e serviços o mais rapidamente possível, mas de forma gradual e responsável, garantindo o resguardo e segurança dos grupos de risco e fazendo obrigatoriedade de uso de máscara em todos espaços fechados, bem como um distanciamento social mínimo obrigatório. Para minimizar o impacto negativo na Engenharia Civil é essencial que não sejam canceladas as obras públicas previstas e que seja, pelo menos, mantido o investimento público que estava previsto. Deverão ser ainda tornadas práticas as medidas de financiamento já anunciadas e adotados incentivos fiscais às empresas e pessoas, de modo a garantir a rápida retoma dos níveis confiança e consumo, assegurando um maior investimento privado e gerando emprego.

 

Que outra mensagem gostaria de deixar a quem irá ler esta entrevista?
Gostaria de deixar um agradecimento especial a todos os profissionais que continuam trabalhar, muitas vezes em situações difíceis e colocando em risco o seu agregado familiar, mas que desta forma contrariam a estagnação da atividade económica. Gostaria também de deixar uma mensagem de otimismo e profunda confiança no futuro, para que possamos tirar partido do que aprendemos neste período de forma a permitir melhorar o nosso modo de trabalhar e a qualidade de vida no pós-Covid.

 

 

 

 

 

Nome: Carlos Daniel Fernandes Peixoto            

Idade: 37  

Empresa onde trabalha: Casais Engenharia e Construção, S.A.

Função: Diretor Técnico Comercial – Setor Público

 

 

As atuais restrições devido à Covid-19 tiveram impacto na sua atividade profissional? A que nível?

Ao nível da operação do departamento comercial, no que respeita o processo de orçamentação, o impacto não é muito significativo. A grande maioria dos nossos técnicos está em teletrabalho e possui as ferramentas necessárias para continuar a sua atividade. Toda a informação necessária está sempre disponível através de sistemas de armazenamento / partilha em “cloud”. Este método de trabalho já era utilizado antes do período de pandemia que estamos a viver. Relativamente ao fluxo de trabalho sentimos diversas dificuldades em obter informações atempadas dos nossos fornecedores, provocando um adiamento dos prazos dos processos. As restrições às deslocações têm o seu impacto na dificuldade em realizarmos visitas aos locais de obra, em fase comercial, tratando-se de um aspeto negativo e prejudicial aos estudos em desenvolvimento.

 

Que medidas tomou para se manter no ativo e o seu posto de trabalho?

O fato de utilizarmos sistemas remotos de acesso à informação e as plataformas de videoconferência estarem amplamente difundidas na empresa permitiu que a atividade, ao nível do departamento comercial, se mantivesse. A única grande diferença é o local de trabalho e uma forma diferente de interagirmos em grupo, o que não significa menor contato entre as pessoas. Além da interação continua promovemos conversas “de café” entre todo o departamento, através de videoconferência, tratando-se de um momento de partilha, convívio e uma pausa no trabalho.

 

Terminada esta fase, como irá adaptar-se para retomar o seu trabalho em pleno?

A retoma do trabalho será efetuada mobilizando-se gradualmente os nossos técnicos que estão em teletrabalho para o seu local habitual de trabalho, sempre em sintonia com as regras de proteção de saúde estabelecidas. O alcance do nível de trabalho para patamares semelhantes aos anteriores, estará muito associado à reação do mercado e à evolução da economia portuguesa e internacional. A nossa atividade está intimamente ligada ao estado da economia e ao nível de confiança dos investidores e da população.

 

Na sua opinião, que efeitos terá este período na atividade do Engenheiro Civil?

Estou naturalmente muito apreensivo. Já ultrapassamos outras crises recentemente e temos presente os impactos que teve na nossa profissão. Se em outros momentos muitos colegas de profissão optaram por um percurso internacional, face à falta de oportunidades no mercado nacional, esta opção não será tão óbvia. Estamos perante uma pandemia ao nível mundial com repercussões na economia de todos os países.

 

Que recomendações, sugestões ou tipo de ações entende que poderão minimizar o impacto negativo na Engenharia Civil?

As ações mais lógicas que as empresas podem adotar para minimizar o impacto são as que permitam a manutenção da sua atividade. É fundamental as obras continuarem, os contratos serem cumpridos e que novas obras sejam adjudicadas. Para tal é fundamental as empresas adotarem políticas rigorosas de controlo sanitário e de controlo de propagação do vírus. Outras medidas como otimização de custos, foco na operação, incremento das atividades mais rentáveis e avaliação de novas oportunidades são transversais a todas as empresas. Considero fundamental o papel do nosso governo no período atual e pós pandemia, pois se em outras crises o setor da construção foi abandonado e deixado à mercê do esforço dos empresários, esta crise exige, obrigatoriamente, uma intervenção diferente do governo. O investimento em empreitadas públicas tem de aumentar significativamente e os pagamentos assegurados dentro dos prazos contratuais, para que o efeito do desinvestimento privado seja minimizado. A economia faz o nosso setor mover-se, mas é também o nosso setor, com a criação das infraestruturas, que permite a economia crescer.

 

Que outra mensagem gostaria de deixar a quem irá ler esta entrevistas 

Ser otimista em tempo de crise não é fácil, mas a resposta dos portugueses está a ser fantástica e isso, certamente, permitirá que a confiança dos investidores no nosso país não baixe para níveis indesejados. Temos de superar este período, adaptarmo-nos às novas realidades e aproveitar novas oportunidades. O mundo está a mudar, vai mudar mais do que pensamos e, mais que nunca, temos de estar atentos às novas trajetórias dos mercados e da humanidade.

 

 

 

 

2024 © Copyright, Ordem dos Engenheiros Região Norte