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Entrevista João Sérgio Silva, diretor de produção, Lactogal

25 de maio de 2020 | Geral

João Sérgio Silva, licenciado em Engenharia e Gestão Industrial e diretor de produção da Lactogal, explica-nos que o consumo dos alimentos, em tempos de covid-19, continuam assegurados, porque são cumpridas “regras de higiene muito rigorosas”. Além disso, não tem dúvidas em apontar as qualidades técnicas dos engenheiros que trabalham nesta área. E qual será o grande desafio dos engenheiros no séc. XXI? Descubra em mais uma Grande Entrevista de Engenharia.

 

 

 

 

 

Com 39 anos é atualmente Diretor da Lactogal, na Unidade Fabril da Tocha. João Sérgio Silva é licenciado em Engenharia e Gestão Industrial pela Universidade de Aveiro. Depois de passar pelo departamento de Inovação e Desenvolvimento da Bosch e pela MELIX – Indústria de Mobiliário, no departamento de Desenvolvimento do Produto, chega em 2006 à Lactogal como Responsável de Produção, na Unidade Fabril de Oliveira de Azeméis, e em 2018, assume a Direção da Unidade Fabril da Tocha.

 

 

Fale-nos um pouco do seu trabalho na Lactogal. Quais as suas funções e responsabilidades?

Tenho como principais funções a coordenação e o controlo de todas as atividades da Produção, desde a chegada da principal matéria prima (leite) até à entrega do produto final no Armazém de Produto Acabado, na U.F. da Tocha. As minhas principais responsabilidades têm como foco "as pessoas", uma vez que somos uma “Empresa de pessoas para pessoas”, e com todos os processos inerentes, por forma a garantir, de forma diária, a produção de alimentos com os mais altos padrões de qualidade. Acrescentamos valor a um produto que, só por si, já tem um enorme valor - o leite. Nesta Unidade Fabril somos responsáveis pela produção do Leite Matinal, de Leites Funcionais, de Leites Aromatizados e de Sumos que chegam diariamente à casa de todos os portugueses. “Trabalhamos para o bem-estar através da alimentação!”.

 

Neste momento, em que sentido o que faz impacta com a vida das pessoas?

As decisões que tomo diariamente têm impacto, em primeiro lugar, com a vida da equipa que tenho o privilégio de trabalhar e de liderar e, consequentemente, na vida de milhares de portugueses que consomem os nossos produtos regularmente, assim como na vida dos nossos fornecedores. É importante perceber que pertencemos todos a uma grande equipa – Lactogal, que está inserida no meio de um processo. Ou seja, por um lado temos que garantir a receção do Leite produzido diariamente nas explorações agrícolas, acrescentar-lhe valor e entregá-lo ao consumidor final, todos os dias. É importante que o que façamos seja excecionalmente bem feito e de forma eficiente, porque apenas uma indústria eficiente pode acrescentar valor a um produto.

 

 

 

 

 

Como mudou o seu dia a dia depois da covid-19?

Essencialmente mudei rotinas. Começou pelo percurso casa-trabalho e vice-versa, trajeto que passou a ser feito sem desvios. Dentro da fábrica ativamos, de imediato, o plano de contingência e o afastamento físico entre as pessoas passou a ser imperativo. Reduzirmos a circulação entre os setores e o cumprimento aos colegas passou a ser apenas com o levantar da mão.

 

“A produção de alimentos rege-se segundo

regras de higiene muito rigorosas, cuja implementação

está sujeita a controlos oficiais.”

 

As reuniões presenciais deixaram de existir. Como vivemos numa era em que as tecnologias de informação estão de tal maneira desenvolvidas, as videoconferências facilmente passaram a ser regra. O uso da máscara também passou a ser normal, bem como os cuidados extra de higienização.

 

Podemos ter a certeza que os produtos, como aqueles que controla e que consumimos, são seguros?

A produção de alimentos rege-se segundo regras de higiene muito rigorosas, cuja implementação está sujeita a controlos oficiais. O cumprimento e o controlo destas regras visa evitar a contaminação dos alimentos por qualquer agente patogénico, no qual está incluído o vírus responsável pela Covid-19. Existem boas práticas e bem definidas como a limpeza, a desinfeção (química ou térmica), as áreas de processo e os procedimentos bem caracterizados para evitar a contaminação cruzada (p.e. alergénios), higienização do fardamento dos colaboradores, lavagem frequente de mãos, desinfeção dos sapatos, uso de luvas, uso de máscaras em determinados processos, etc…  São realizadas ações de formação, com caráter regular, e o controlo da sua eficácia é garantido pelos responsáveis das respetivas áreas. Supletivamente a Lactogal é certificada, entre outras, pela IFS em “high level”, que é uma norma bastante exigente ao nível da segurança alimentar. Todas as produções são controladas pelo operador e o seu controlo é validado pelo responsável dessa área.  Nenhum produto sai das nossas instalações sem cumprir todos os requisitos definidos, uma vez que apenas o laboratório de qualidade pode libertar o produto para o mercado. 

 

 

“Até à data não existe nenhum registo, que eu conheça, de transmissão

 da Covid-19 através do consumo de alimentos.”

 

 

Que medidas adotaram na Lactogal para assegurar que nenhum produto está contaminado?

Até à data não existe nenhum registo, que eu conheça, de transmissão da Covid-19 através do consumo de alimentos. Considera-se que a transmissão da Covid-19 ocorre sobretudo de pessoa para pessoa, principalmente através de gotículas respiratórias que as pessoas infetadas libertam através de espirros, da tosse ou da expiração. Neste contexto, o nosso plano de contingência incorpora várias medidas (dezenas) que visam a proteção dos nossos colaboradores e parceiros, como p.e. manter o número mínimo de pessoas necessárias dentro da fábrica e garantir o seu afastamento, a desinfeção constante de superfícies e de zonas de contacto comuns (maçanetas de portas, corrimãos, máquina do café,etc.),  desinfeção frequente das mãos, uso de máscara, criação de circuitos alternativos de pessoas. Tivemos também que adaptar as zonas sociais (salas de lanche e cantinas) privilegiando o serviço de Take Away.

 

“Nesta área (Engenharia Alimentar) estamos

ao nível do que melhor se faz no mundo”

 

 

Como vê a Engenharia alimentar que se faz em Portugal. Consegue identificar o melhor e o pior?

E exigência nesta área é de tal forma elevada que me atrevo a afirmar que em Portugal estamos ao nível do que melhor se faz no mundo!

 

 

Qual é segredo para ser um bom engenheiro de gestão industrial? Há segredo?

Julgo que não. Os “segredos” são comuns em todas as áreas: interesse e dedicação diária. A motivação passa por questionar constantemente tudo o que nos rodeia e sermos agentes de mudança.

 

A Engenharia é um dos pilares d sociedade moderna,

 muito assente numa economia de consumo que

vai muito para além das necessidades básicas.

 

 

A Engenharia está na moda? Porquê?

Não considero que seja uma moda. É intrínseca ao ser humano que a vai desenvolvendo ao longo da sua vida (uns mais do que outros). Percebe-se que a Engenharia está em todos os quadrantes da nossa sociedade e que está cada vez mais exigente. Talvez por isso se reconheça cada vez mais a necessidade de engenheiros especializados e mais frequentemente se ouça o termo “Engenharia”. A Engenharia é um dos pilares da sociedade moderna, muito assente numa economia de consumo que vai muito para além das necessidades básicas.

 

“A maior desafio dos engenheiros neste século

será revolucionar toda a atividade industrial,

de forma a dissociá-la de combustíveis fósseis”

 

 

Quais os maiores desafios dos engenheiros neste século?

Julgo que o maior desafio será revolucionar toda a atividade industrial, de forma a dissociá-la de combustíveis fósseis. Queremos preservar o nosso planeta, mas não conseguimos prescindir da nossa mobilidade, bens e serviços. Continuamos muito dependentes de combustíveis fósseis não renováveis e que são emissores de gases com efeito de estufa durante a sua queima. A atual pandemia por Covid-19 conseguiu fazer com que se reduzisse a emissão destes gases, mas com um custo brutal para a Economia e, como tal, a curto prazo.

 

 

 

 

Nomeie um engenheiro do Norte que esteja a desenvolver um trabalho que aprecia, dentro ou fora de Portugal.

Existem inúmeros Engenheiros, anónimos para a sociedade em geral, cujo trabalho entra pelas nossas portas diariamente, quer seja através da alimentação, da saúde, do vestuário, da tecnologia de informação, etc… e para mim o seu trabalho é a garantia de um maior conforto nas nossas vidas. Para eles, um bem haja!

 

 

 

 

Há Engenharia em tudo o que há? Comente.

Sem dúvida. A Engenharia é a aplicação do conhecimento existente num processo de criação e desenvolvimento de tudo o que se encontra em nosso redor. O Homem tem uma necessidade constante de inventar/criar, quer seja algo novo quer seja um processo para facilitar a nossa vida e isso é… Engenharia!

 

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