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O material é bom, as cabeças é que não acompanham

30 de março de 2017 | Engenharia Geológica e de Minas

José Martins de Carvalho veio à sede da OERN e, perante uma plateia de muitos estudantes de Engenharia, fez questão de alinhar o discurso com a modernidade que hoje deveria caracterizar o trabalho de pesquisa e captação de águas subterrâneas. A sessão “Captação de águas subterrâneas: Engenharia ou bricolagem?” contou, também, com a presença de Simões Cortez, antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros.



“A atividade tem sido praticada com um nível técnico cada vez mais baixo, ainda que tenhamos os melhores meios”, acusa o professor emérito do ISEP e medalha de mérito pela Federação Europeia de Geólogos, para quem o problema, atualmente, está nos operadores: “se não houver cabeças a trabalhar com bons materiais, as coisas correm mal”.



Coisas sérias e cabelos brancos

 

Dando alguns exemplos do trabalho que desenvolveu ainda na Guerra do Ultramar, “Engenharia de alta qualidade”, como lhe chamou, Martins de Carvalho diz hoje com propriedade que, se os trabalhos são de Engenharia e não mera bricolagem, “tem que haver um projeto” e geólogos que se assumam como “os gestores da incerteza, do risco geológico do insucesso”.


“Podemos ter uma máquina bestial”, acrescenta, “mas se ninguém lhe sabe mexer, é bricolagem e andamos a brincar com coisas sérias”. Descrente da capacidade de muitas empresas em Portugal para fazerem bons trabalhos de pesquisa e captação de água, o geólogo admite conhecer vários trabalhos “de ganhar cabelos brancos”.


Sublinhando os ensaios de caudal como peças fundamentais e de custo reduzido, Martins de Carvalho deixou claras algumas regras: “velocidade de entrada da água nos tubos-ralos deve ser inferior a três centímetros por segundo”, “velocidade ascensional dentro da coluna inferior a um metro e meio por segundo” e, por fim, “o nível dinâmico nunca deve passar abaixo do tubo-ralo que está mais perto da superfície”.



Engenharia não é trabalho para amadores


Para o especialista, o que falta é em Portugal, entre as muitas empresas de sondagens, é “a personagem do consultor, do projetista de captações”. Como última regra de ouro, e em jeito de conclusão, fica a certeza de “não chamar amadores para fazer obras de Engenharia”. Esta questão viria a ser levantada durante o debate, onde se acusava a legislação de falhas que permitiam o amadorismo.



José Martins de Carvalho concorda, lembrando que a lei enumera como requisito para que um empreiteiro seja aceite na captação de águas subterrâneas a existência de um técnico responsável com formação, mas “o que se verifica é que o empreiteiro paga a jovens licenciados para fazerem 30 a 40 relatórios de má qualidade e depois a obra não é seguida por ninguém”.

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