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Homenagem a Júlio Barreiros Martins
23 de maio de 2007 | Geral
Discurso do Prof. Barreiros Martins 21.4.07 Senhor Reitor, Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Senhor Presidente do Conselho Directivo da Região Norte da Ordem dos Engenheiros , Senhor Presidente da Escola de Engenharia, Caros Colegas e Senhor Arcebispo, Prezados Amigos e Amigas Minhas Senhoras e meus Senhores Desejava, antes de tudo, que todos considerassem esta homenagem não a uma mas a muitas pessoas: Àqueles que me formaram em Engenharia Civil; Àqueles com quem, com todo o empenho e gosto, colaborei; e ainda gostaria que esta homenagem abrangesse também a minha Mulher, a Albertina, que suportou, por vezes estoicamente, as minhas ausências, resultantes da minha grande dedicação à causa do Ensino, da Investigação e, em menor escala, ao exercício da profissão de Engenheiro. De entre aqueles que me formaram em Engenharia Civil gostaria de nomear: Joaquim Ribeiro Sarmento - aqui presente Também da FEUP Álvares Ribeiro ausente no estrangeiro E especialmente os que já não estão entre nós Teotónio Rodrigues, Bonfim Barreiros, Correia de Araújo, Armando Campos e Matos, Antão de Almeida Garret, António Teixeira Rego,Filipe de Paiva Brandão,Taveira,Amaral,Barbosa de Abreu,António Correia de Barros,Joaquim da Conceição Sampaio E ainda do Imperial College de Londres Alan W. Bishop (falecido),Robert E. Gibson (orientador da minha tese de mestrado),D.J. Henkel,Norbert Morgenstern,N. N. Ambraseys Todos eles me inspiraram na descoberta do mundo da Engenharia e foram para mim um exemplo a seguir no Ensino, na Investigação e na Prática Profissional. Já dizia Confucius 500 anos antes de Cristo “Conhecimento! Se existe deve ser ensinado e posto em prática!” Este deve ser o lema de todo o docente e investigador. Gostaria também de endossar esta homenagem a Edgar Cardoso que sempre me pediu que o acompanhasse nas viagens que fez a Moçambique, não só para se planear as prospecções geotécnicas que depois o LEM efectuava, mas também quando coordenava as equipas de fiscalização da execução das obras que projectou e também durante as provas da carga das pontes e monitorização dos trabalhos. Com ele aprendi muito do saber “de experiência feito”, como dizia o nosso épico Camões. Como aluno universitário fui submetido a vários métodos de ensino, nas 30 disciplinas anuais do meu Curso. Como docente universitário durante 40 anos escolhi desses, vários métodos - os que me pareceram mais adequados e inventei outros, tendo sempre em vista o maior sucesso escolar dos meus alunos, sem perda do nível de exigência próprio de um curso universitário. O acto de ENSINAR deve, antes de mais, ser um acto de Missão O acto de APRENDER deve ser, antes de mais, um acto de TRABALHO. Foi assim que procurei “formar” os meus alunos Grande parte dos meios de Comunicação social portugueses dizem hoje, como ontem, que as universidades portuguesas não preparam os seus diplomados desta maneira, generalizando o que não pode ser generalizado. Devo tornar claro que, O ponto comum a todos os métodos que usei, foi impor da forma mais leniente possível, a todos os alunos, a frequência comparticipativa em todos os tipos de aulas (teóricas, de exercícios e laboratoriais) a partir do 1º dia do semestre escolar. Nas disciplinas de que fui responsável sempre impus “suor” ao professor-ensinante (a mim próprio e aos meus assistentes) e ao aluno-aprendiz , desde o 1º dia de aulas. Privilegiei a “assimilação” dos princípios ou leis fundamentais e não memorização. Foi através da aplicação em problemas concretos e em crescendo de complexidade que fui introduzindo o mundo da Engenharia Civil aos meus alunos. Os meus resultados nunca foram maus e penso que, se parte dos meus alunos não tiveram sucesso, isso se deve, essencialmente, à tal falta de cultura do Trabalho e Mérito que deviam ter desde o 1º ano do Ensino Básico. Não aproveitam, a esse respeito, diplomas legislativos e mais diplomas legislativos que continuam a fazer-se, impondo “facilidades” para os estudantes de todos os níveis de ensino e que apenas levam a mais e mais insucesso e abandono escolares que se pensa desse modo reduzir . A FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES DE L MARQUES E DO MINHO E DAS ESCOLAS DE ENGENHARIA RESPECTIVAS. De entre aqueles com quem colaborei com todo o empenho e gosto na fundação das Universidades de Lourenço Marques e do Minho, e respectivas Escolas de Engenharia. desejaria nomear por já não estarem entre nós: Carlos de Castro Carvalho Carlos Lloyd Braga,Joaquim Barbosa Romero Todos eles, com o seu labor e saber honraram o Ensino Universitário, a Investigação e toda a Engenharia Portuguesa. Penso que as melhores Escolas Universitárias Portuguesas de Engenharia devem, com imaginação, procurar meios próprios de subsistência, fazendo uma investigação aplicada que, sem perda de nível, resolva os graves problemas de inovação tecnológica com os quais a Indústria Portuguesa se vê confrontada, para poder competir no mercado internacional cada vez mais exigente. Algumas estão a fazê-lo, nomeadamente a da Universidade do Minho. Regozijo-me por hoje em dia todos os doutorados do DEC poderem usufruir de licenças sabáticas, pois há massa critica que permite assegurar o serviço docente do Departamento. Eu ainda consegui gozar uma sabática no total dos meus quarenta anos de docência universitária.... IMPORTÀNCIA DA INVESTIGAÇÃO Sobre a problemática da Investigação em Engenharia já escrevi um tanto, mas tudo ficou “intra-muros” por publicações soltas mais ou menos internas. Entendo que a Investigação em Engenharia compreende 3 níveis: A Investigação Fundamental, a Investigação Aplicada e Inventiva em Laboratório e no Campo e a Investigação por observação e monitorização de Obras e injecção dos resultados nos outros níveis de Investigação. Só assim a Engenharia, a Civil em particular, poderá progredir rapidamente. Não vou maçar-vos com descrições destes três tipos de Investigação. Só vos quero dizer que a Engenharia deveria seguir de perto, “mutatis mutandis”, o que se faz em Medicina, onde os Laboratórios Farmacêuticos principais praticam, eles-próprios, Investigação Aplicada de ponta. Não me consta que os grandes grupos de consultoria e projecto em Engenharia Civil, nem os grandes Empreiteiros de Obras de Engenharia Civil portugueses façam isso, a não ser muito pontualmente, em ligação com algumas Escolas de Engenharia. Esta minha observação tem a ver com o financiamento da Investigação na Engenharia da Universidade do Minho. De facto fala-se muito hoje em Knowlege Process Outsourcing (KPO) e Business Process Outsourcing (BPO) que eu traduziria por “Negócio da Subcontratação de Grupos de Investigação Aplicada” A Engenharia da Universidade do Minho tem vindo a desenvolver , e bem, este novo tipo de financiamento da Investigação Aplicada. (Para a Investigação Fundamental bastam hoje bons computadores e bons cérebros humanos). Mas na Engenharia Civil é preciso ir muito mais além: Procurar para parceiros Grupos Empresariais adequados no País e fora dele. Não se pode confiar essencialmente nos programas de investigação da FCT e nos da UE. E não adianto mais sobre este ponto, sabendo eu bem quanto a Engenharia da Universidade do Minho tem sido prejudicada por confiar demasiado nessas formas de financiamento, a começar pela alta burocracia que é necessário vencer e que toma boa parte do tempo que deveria ser dedicado à Investigação em causa. OBRAS AERPORTUÁRIAS EM MOÇAMBIQUE Continua a estar na “Ordem do Dia” de toda a Comunicação Social e todos assistiram ao debate que correu na RTP sobre a localização, projecto e construção de um novo aeroporto para Lisboa. Não vou aqui entrar na polémica, até porque não conheço, com a devida profundidade , os “dossiers”. No entanto, quero começar por dizer que a Engenharia Portuguesa está em condições de projectar e construir um aeroporto, por mais complexo que seja, em pleno Oceano. É tudo uma questão de custos. Referindo-me a Moçambique posso dizer que de 1957 até 1974 foram projectados e construídos com toda a segurança pela Engenharia Portuguesa pelo menos 6 aeroportos de categoria internacional, onde pode aterrar todo o tipo de aeronaves, mesmo as de maior envergadura (Maputo, Beira, Quelimane, Nacala, Matundo-Tete e Nampula). Os Aeroportos da Beira e particularmente o de Quelimane foram construídos em terrenos muito maus. O de Quelimane tem por baixo mais de 50m de argila pura branda de alto índice de plasticidade. Mesmo assim, nem para ele foram necessárias “estacas de brita” muito discutidas agora para a hipótese da OTA em Portugal. Nem se usaram drenos verticais de geotêxtil, muito mais fáceis de instalar e muito mais baratos que as “estacas de brita”, até porque essa técnica não era nessas datas bem conhecida ou, pelo menos, bem desenvolvida. Aplicou-se, sobre a argila, simplesmente uma camada de solo granular da região mais próxima com granulometria bem estudada pelo LEM e com espessura igual ou superior a 1,20m sobre a qual se projectou outra camada de solo-cimento também bem estudada pelo LEM. Finalmente uma cama de “desgaste” em betão betuminoso com espessura adequada, mais uma vez estudada pelo LEM. Para a placa de estacionamento das aeronaves houve o cuidado de projectar uma laje de betão armado de dupla armadura correctamente dimensionada. Tudo foi projectado satisfazendo as normas da ICAO (International Civil Aviation Organization) pelos meus colegas António Costa da Silva e Aurélio Martins do então “Serviço de Estradas e Aeródromos” do LEM. A construção foi realizada por Empresas Portuguesas de Engenharia Civil somente e as Fiscalizações foram apoiadas pelo LEM. Os projectos foram aprovados pelo “Conselho Superior de Obras Públicas” então ainda existente em Moçambique e os concursos para as Empreitadas foram lançados pela Direcção de Serviços de Obras Públicas de Moçambique. Eu apenas conduzi a Prospecção Geotécnica que serviu de base aos projectos e participei, como membro, no Conselho Superior de Obras Públicas de Moçambique, onde muito aprendi com as discussões acaloradas que houve sobre esses e outros projectos de grande envergadura e com os relatórios de apreciação de alguns dos projectos que me foram cometidos e tive de relatar no Conselho perante perante intervenções críticas dos colegas. Tenho notícia de que, passadas mais de 3 décadas da construção desses aeroportos e, a pesar da fraca ou nula conservação, ainda funcionam bem. Presumo que caso semelhante seja o dos principais aeroportos de Angola, pelo menos o de Luanda é. Mas, ao que li e ouvi, os nossos governantes actuais e passados não conhecem estas realidades. E podia deter-me aqui o resto do dia a dizer porque é que em Moçambique não havia “derrapagens” em custos e em tempo como as previsíveis para o novo Aeroporto de Lisboa, como o foram na realidade para o Centro Cultural de Belém, para a Expo 98, para a Casa da Música do Porto, para os Túneis do Rossio e do Marquês em Lisboa e Túnel da Rua de Ceuta no Porto, etc. etc. No debate acima referido foi “cavalo de batalha” a questão do prejuízo da construção do aeroporto, aqui ou acolá, para a recarga dos aquíferos. Trata-se de uma falsa questão: Qualquer obra de construção civil que envolva pavimentação impermeável de uma superfície, antes agrícola ou florestal, prejudica a recarga do aquífero respectivo, se este existir. Teremos então de deixar de construir aeroportos, auto-estradas, ruas, etc. etc. e voltar à Era do Selvagem Feliz da pré-história? Talvez fosse melhor. Não quero com isso dizer que, no que respeita a respeita impactes ambientais devidos à construção de estradas e auto-estradas se não devesse usar a solução “Moçambique” 1957-1974 que cá ainda não se usa !. No referido debate falou-se pouco no facto de que, hoje mais que ontem, o cálculo dos custos deve um “cálculo de custos integrados”, isto é deve envolver custos das infra-estruturas, das super-estruturas, os custos das “acessibilidades”, custos de manutenção durante a vida útil da Obra, e de exploração, incluindo nestes os custos para os utentes, em tempo e dinheiro, que nunca são considerados, porque se entende que os utentes não são Estado. Só são considerados os custos com incidência no Orçamento do Estado e, mesmo estes, se limitam aos que têm de ser suportados pelo governo do momento, esquecendo-se os custos que os contribuintes terão de pagar no futuro e aqueles que os utentes têm de pagar em transportes para acesso ao aeroporto durante a vida útil deste. E já não falo nos custos financeiros, isto é, os juros explícitos ou encobertos, que se têm sempre de pagar às entidades financiadoras, mesmo que também sejam directa ou indirectamente entidades exploradoras. AGRADECIMENTO FINAL Quero por fim agradecer esta homenagem, que ultrapassa tudo o que eu previa, em primeiro lugar ao Paulo Cruz pela ideia da publicação das minhas memórias e pela cruz que carregou para a materializar. Agradeço também ao Senhor Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Engenheiros, Engº Gerardo Saraiva, pela disponibilidade que desde logo manifestou em apoiar a iniciativa e ainda a todos os que contribuíram para esta mesma realização, bem como a presença do Senhor Reitor da Universidade do Minho e do Sr. Bastonário da Ordem dos Engenheiros. Especial agradecimento é devido aos membros da “Comissão Organizadora” a começar pelo Paulo Lourenço e sua Irmã Júlia que com tanto carinho, engenho, arte e labor conceberam e executaram esta festa em minha homenagem. E “last but not the least” à Márcia Fernandes, ao Pedro Ferreira, Cristina Fernandes, Cristina Danko e Francisco Fernandes e a todos os que com total devoção tudo arranjaram em devido tempo. Vou terminar. Caros Colegas e Amigos Vivemos num Mundo cada vez mais pequeno. Cada Um está à distância de um “click” de Outro situado no extremo oposto do Planeta. Temos, por isso, de saber educar os nossos filhos, netos e bisnetos para esta realidade que está a ter, e vai ter, consequências determinantes nas suas vidas, sob todos os pontos de vista. Caros Colegas da Universidade do Minho Enquanto estive ao serviço convidei-vos para uma Aventura que não é fácil: Estudar, Investigar, Ensinar e Aplicar, a bem da Comunidade em geral e das futuras gerações de diplomados pela Universidade do Minho. Para isso é preciso estabelecer uma cultura de Trabalho e de Mérito. Sinto-me hoje feliz por me parecer ter conseguido fazer passar a mensagem. A mensagem de que a Engenharia deve ser sempre “Saber para Prever e Prever para Prover”. GRATO PELA VOSSA ATENÇÃO
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